Capítulo 7 – Santarém, 22 de Abril: O Acaso e o Destino Caminham Juntos

Era uma manhã suave em Santarém. O céu tinha aquela cor pálida que só o Tejo conhece, e o ar fresco do interior português nos envolvia enquanto caminhávamos pelo centro histórico da cidade.

Eu, Cláudio, seguia com Luciana e Bia por entre muralhas, miradouros e calçadas de pedra, com o entusiasmo de quem começa mais um dia de descobertas. Havíamos incluído Santarém no nosso roteiro pelo seu charme gótico, suas igrejas impressionantes e pela fama de seus mirantes sobre o rio. Mas não imaginávamos que ali, entre passos e acaso, nos encontraríamos com algo muito maior do que uma bela paisagem.

O dia 22 de abril e o panfleto dobrado

Depois de visitarmos o Jardim das Portas do Sol, de onde se vê o Tejo serpenteando pelo Ribatejo como um lençol de prata, seguimos até a Igreja da Graça, uma construção imponente em pedra clara, com uma rosácea que hipnotiza quem olha para cima.

A nave era silenciosa. O cheiro de pedra úmida e cera acesa pairava no ar. Caminhávamos entre os bancos quando avistei uma pequena mesa com folhetos informativos sobre o local. Peguei um exemplar, e por pura distração ou destino, comecei a folhear lentamente.

Foi aí que li a frase:

“Nesta igreja repousa Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil.”

O tempo parou.

Olhei para o papel. Depois para Luciana. Depois para a data no canto do celular. 22 de abril.

Silêncio. Um daqueles silêncios carregados de sentido.

O Brasil dentro de uma igreja em Santarém

Nos entreolhamos e caminhamos até a lateral esquerda da nave. E lá estava: uma lápide simples, com uma cruz gravada e o nome que todos nós conhecemos desde a infância: Pedro Álvares Cabral.

Não havia pompa. Não havia multidão. Apenas nós, três brasileiros, ali, diante do túmulo do homem que, em 1500, aportou numa terra distante e, sem saber, mudou o rumo da nossa história.

E estávamos ali no dia 22 de abril, exatamente 524 anos depois daquele encontro entre europeus e nativos em uma praia do sul da Bahia.

Coincidência? Destino? Chamem como quiserem. Para nós, foi um sinal. Um lembrete de que as viagens mais marcantes não são apenas aquelas que planejamos. São as que nos surpreendem.

Reflexão sobre a história e o reencontro com as raízes

Sentamos nos bancos de madeira antiga da Igreja da Graça, tomados por uma emoção silenciosa. A história do Brasil, ensinada em livros, agora ganhava um rosto, um lugar físico, uma lápide diante dos nossos olhos. Era como se parte da nossa identidade encontrasse ali uma âncora emocional.

Bia, com os olhos brilhando, sussurrou: “A gente veio parar aqui exatamente hoje. Pai, você tem noção do que isso significa?”

Tínhamos. Tínhamos plena noção.

Santarém: muito mais do que esperávamos

Depois de sairmos da igreja, com o coração ainda apertado de emoção, continuamos o passeio por Santarém com outro olhar. A cidade, que já era bela, agora parecia mágica. Cada beco e praça contava uma nova história, e o passado estava vivo em cada fachada gótica.

Visitamos a Igreja de São João de Alporão, hoje transformada em museu, onde arcos românicos e góticos coexistem como páginas de um mesmo livro. Passamos pela Torre das Cabaças, com seu curioso relógio do século XV, e pelo Miradouro de São Bento, onde o Tejo abraça o horizonte e os telhados alaranjados da cidade se perdem na distância.

Paramos para um almoço típico no centro histórico: ensopado de borrego com hortelã, acompanhado por vinho da região. Mas mesmo entre os sabores intensos da culinária ribatejana, ainda sentíamos o gosto de algo mais profundo: o sabor da memória.

Um capítulo que não será esquecido

Naquela noite, já de volta ao hotel, escrevemos no diário de bordo:

“Hoje, dia 22 de abril, sem planejarmos, visitamos o túmulo de Pedro Álvares Cabral. O acaso nos levou até ele, como se a história nos tivesse puxado pela mão. Foi uma homenagem sem palavras, um reencontro com nossas origens. Em Santarém, Portugal e Brasil se abraçaram novamente.”

Dicas para quem visita Santarém

  • Igreja da Graça: Não deixe de visitar e homenagear o túmulo de Pedro Álvares Cabral. Aberta à visitação e com entrada gratuita.
  • Portas do Sol: Um dos melhores miradouros do país, com vista panorâmica do Tejo.
  • Museu de Santarém: Abriga achados arqueológicos e arte sacra, perfeito para compreender a história da região.
  • Gastronomia local: Experimente o Arroz de Magusto, o Ensopado de Borrego e os vinhos encorpados da região do Ribatejo.

Conclusão: o passado se apresenta quando menos esperamos

Santarém nos recebeu com sua arquitetura, sua beleza e sua calma. Mas nos presenteou com algo muito maior: uma coincidência cheia de significado, que nos conectou com as nossas raízes de forma profunda e inesperada.

No exato dia em que o Brasil foi avistado pelos olhos de Cabral, nós, seus descendentes, estávamos diante de sua sepultura. Talvez ele nunca tenha sabido o impacto que causaria. Mas ali, diante daquela pedra fria, três brasileiros disseram, em silêncio:

Obrigada, Pedro. Hoje viemos te visitar.

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